Engenho Central

                                                                     Engenho Central de Piracicaba


                O Engenho Central foi tombado como patrimônio histórico e cultural em onze de agosto de 1989 pelo CODEPAC, o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba, pois compõe o sítio histórico mais significativo da evolução urbana do município. Sua preservação significa o registro histórico e sua própria continuidade, onde os vazios de tempo e memória poderão ser contemplados e resgatados pelas próximas gerações.


                 Hoje em dia, vários eventos, como a famosa Festa das Nações, a paixão de Cristo, salão internacional de humor e muitos outros, acontecem no Engenho.
Situado às margens do Rio Piracicaba, com imponentes construções datadas do século passado, que um dia já abrigaram moendas e caldeiras para a produção de açúcar, o Engenho Central é hoje um dos mais belos cenários da cidade a inspirar turistas, arquitetos e amantes da história e da cultura do povo.

         
                  O Engenho Central de Piracicaba foi fundado em janeiro de 1881 pelo Dr. Estevão Ribeiro de Souza Rezende, o Barão de Rezende, Ele liderava um grupo de empresários piracicabanos e cedeu para a formação da companhia, parte de sua fazenda denominada São Pedro, localizada à margem direita do rio Piracicaba.
               Em 18 de novembro de 1881, chegou da França a primeira remessa de maquinaria, tendo início a montagem. Em outubro de 1882 suas máquinas foram acionadas.
                  A iniciativa dos Engenhos Centrais era arrojada demais para a economia do Brasil e as más condições de mercado, insuficiência de matéria-prima, manutenção e substituição de máquinas e equipamentos, mão-de-obra, somando o fato de haverem pequenos engenhos sob regime de escravidão. Por conta desses motivos projeto foi à falência. Após este período que marcou o final do século 19, entramos na primeira década do século 20 com praticamente o fim e o abandono do processo "Engenhos Centrais " no Brasil.
                 Na tentativa de salvar seu investimento, O Barão de Rezende tentou reativar o Engenho Central de Piracicaba, com o nome de Companhia Niágara Paulista, mas foi obrigado a vendê-la para a empresa francesa Societé de Sucrérie Brèsiliennes, em julho de 1899, que se tornou a maior Usina do Estado em produção. Foi incorporada a outras seis para formar a Societé de Sucrérie Brèsiliennes, transformando-se na mais importante do país, com produção anual de cem mil sacas de açúcar e três milhões de litros de álcool.

                 
                 A primeira Grande Guerra Mundial estimulou o mercado internacional do açúcar, promovendo a reação do Brasil e o conseqüente aumento de produção no município de Piracicaba. Nessa época, a região de Piracicaba tinha o cultivo do café como a principal riqueza  mas, devido à crise econômica da cultura do café em 1929, as plantações de cana- de- açúcar voltaram a se espalhar pelo Estado de São Paulo, tendo Piracicaba como um dos principais municípios produtores. Nesse período, a produção das duas usinas existentes no município, o Engenho Central e a Usina Monte Alegre, passou de 1,5 toneladas em 1928 para 1,8 toneladas de açúcar no ano de 1932.
                 Esse crescimento foi limitado pela criação do IAA- Instituto do Açúcar e do Álcool, que estimulou a produção do álcool. A partir da década de 30, muitos engenhos existentes na região desapareceram ou foram encampados pelas usinas. Apesar de sucessivas crises, o Engenho Central ainda foi ampliado nas décadas de 40 e 50, pois o açúcar continuou a exercer papel preponderante na economia piracicabana: na década de 50, representava 52% do valor total da produção agrícola; dez anos mais tarde essa participação chegou a 75%.
A crescente urbanização da Vila Rezende, onde o Engenho se encontra, e da cidade como um todo, acabou por dificultar as atividades operacionais do Engenho Central. Em novembro de 1970 foi vendido para as Usinas Brasileiras de Açúcar S/A - Ubasa, que o manteve em funcionamento até 1974, quando foi desativado radicalmente. Posteriormente, quase a totalidade das fazendas que compunham a propriedade foi loteada e vendida através de um empreendimento chamado "Terra do Engenho", restando na época, mediante acordo com a Prefeitura, apenas o local onde está implantado o Engenho Central.
                 Uma curiosidade: Antigamente, a cana era trazida da roça por trens (além dos caminhões). No local, ainda encontram-se os trilhos e barracões de carga dos trens que carregavam o açúcar e o álcool.
                  Os trilhos da ferrovia do Engenho Central passavam pela mesma ponte por onde passavam os trilhos da Cia. Sorocabana e Ytuana em 1899. Os trens tinham de anunciar sua passagem pela ponte com 5 minutos de antecedência. Em agosto de 1899 a Sucrerie compra a Fazenda Santa Rosa.
                 Em 1903, as fazendas que compunham o Engenho Central eram: Santa Lydia e São Luiz, Cayapia, Santa Rosa, Santa Cruz e Engenho. Além dessas, o Engenho Central arrendava para plantio as terras das fazendas Lenheiro, Algodoal, Terras do Barão, Enxofre e Kannebley. No mesmo ano, falava-se em prolongar em 4 ou 5 quilômetros a estrada de ferro na fazenda Santa Rosa.
                  As máquinas e vagões do Engenho Central podiam também trafegar pelas linhas da Cia. União Sorocabana e Ytuana, de acordo com contrato na época. Algumas fazendas do Engenho, como a de Cayapia e a de Santa Lydia, estavam tão distantes do Engenho que transportavam cana somente pela CUSY, pois as ferrovias próprias não chegavam até lá.
                 "A usina dispõe (em 1903) de uma estrada de ferro de 19 km de comprimento, com bitola de 1 m, de 4 locomotivas (sendo que uma delas, de 10 t está emprestada À Villa Rafard, e as demais, de 15, 18 e 20 t) e de 75 vagões. Estes últimos são de diversos modelos, podendo carregar de 3 a 10 t. (...) Em decorrência de um antigo acordo, da cessão à CUSY de uma linha pertencente à Usina, a de Santa Lydia, a Sociedade açucareira de Piracicaba adquiriu o direito de trafegar, com seu próprio equipamento, em toda a linha ao norte do rio Piracicaba. (...) Infelizmente, a CUSY é mal administrada e as dificuldades de tráfego para nós são numerosas" (Usinas Açucareiras de Piracicaba, Villa Rafard, Porto Feliz, Lorena e Cupim, Missão de Inspeção do Senhor J. Picard, Engenheiro, de 1 de março a 15 de julho de 1903, Editora Hucitec, Editora Unicamp, São Paulo, 1996, p. 61).
 . De acordo com o livro Inventário das Locomotivas a Vapor do Brasil, Memória Ferroviária, de Regina Perez (Notícia & Cia., 2006).
                 Existe ainda pelo menos uma locomotiva que trafegou pelo Engenho, e não é nenhuma das citadas acima por Picard, em 1903. Esta máquina a vapor, uma Baldwin de 1913 1-6-2ST, ainda é operacional e está na ABPF de Campinas, na estação ferroviária de Carlos Gomes, com o número 5. Tendo rodado também na Usina Villa Rafard (também da Sucrerie) e nas Indústrias Villares
                  As ferrovias industriais, ou particulares, do Brasil - aqui classificando-as como sendo ferrovias que não eram de uso público, sendo utilizadas apenas dentro de empresas, indústrias, usinas e outras - foram pouquíssimo estudadas e pesquisadas no Brasil. Uma ou outra têm mais informação: seu patrimônio se esvaiu há décadas, vendido como sucata em grande maioria, sem que sua memória tenha sido resgatada. Por isso, o que se vê é um estudo com dados mínimos e colhidos em fontes diversas, nem sempre confiáveis (Ralph M. Giesbrecht).









Documentário sobre o Engenho (ediçaõ final):




Entrevista na íntegra com o secretário de urbanismo de Piracicaba João Chaddad:



Entrevista na íntegra com o historiador Fábio Bragança: